sábado, 19 de julho de 2014

ABASTECIMENTO À BEIRA DE UM COLAPSO EM ALEXANDRIA

José Juvenal, operador de bombas do SAAE, aponta onde nível da água do manancial Bananeiras chegava
Preocupante. É assim que podemos definir a situação de Alexandria, na região Alto-Oeste, quanto ao abastecimento de água. Isso porque, segundo o Serviço Autônomo de Águas e Esgotos (SAAE), caso não chova e seja mantido o consumo atual, o manancial Bananeiras, principal fonte de captação do município, deverá secar até o fim de agosto.

Essas informações foram repassadas pelo engenheiro civil do SAAE, Emmanuel Pires. Segundo ele, na quarta-feira passada, 16, o Açude Bananeiras estava com apenas 25% da capacidade. Ao atingir o nível mais elevado, o reservatório atinge 12 milhões de m³ de água. A cidade conta também com o Açude Pulgas, um reservatório auxiliar, que, no nível máximo, concentra 4 milhões de m³. Se as reservas do Açude Bananeiras se esgotarem, esse último reservatório amenizará parcialmente o drama vivido pela população.

“Caso o esgotamento do manancial Bananeiras se concretize, existe um estudo de viabilidade para que o abastecimento provenha do Açude Pulgas. No entanto, essa medida vai prolongar a oferta de água por apenas mais 30 dias”, disse o engenheiro.

Emmanuel acrescenta que há outro estudo de viabilidade para limpeza de dois poços artesianos, os quais reforçariam o abastecimento. Contudo, segundo o engenheiro, o volume de água também auxiliaria apenas por mais 30 dias. “Talvez as pessoas perguntem por que não perfuramos mais poços. A resposta é que não temos lençóis freáticos que supram a necessidade em termos de qualidade e quantidade”, salientou. Allenabert Nunes, assessor jurídico do SAAE, reafirmou a gravidade da falta de água no município. “Ainda não entramos em colapso, devido ao tamanho do reservatório”.

A estiagem acomete Alexandria desde 2013, contudo o cenário atual é o mais alarmante. De acordo com Emmanuel Pires, o SAAE realizou teste, reduzindo o período de disponibilidade de água para a população.

“Normalmente, cada bairro recebia água duas vezes por semana. No entanto, no mês de maio, durante dez dias, reduzimos para uma vez, com objetivo de economizar. Os resultados não foram satisfatórios, porque a medida despertou nas pessoas o interesse de reservar água, a fim de que não faltasse para os dias seguintes, o que acabou aumentando o consumo. Além disso, as casas dos pontos mais altos da cidade tinham dificuldades no abastecimento, pois o consumo elevado, nas residências que recebiam o recurso primeiro, impedia que a água chegasse com força”, destacou.

Para conter o avanço no consumo e promover a economia de água, a Prefeitura de Alexandria determinou redução em 5m³ do limite de consumo básico de água em todas as categorias. O decreto foi anunciado em 3 de julho deste ano. A publicação da matéria no Diário Oficial dos Municípios do Estado do Rio Grande do Norte aconteceu no dia 7 do mês corrente. Ou seja, nas ligações residenciais, o limite declinou de 20 m³ para 15m³ mensais. O Serviço Autônomo de Águas e Esgotos idealizou outras ações.

“Proibimos o uso de mangueira para lavar calçadas, a utilização de vassoura hidráulica e realizamos campanha de racionamento. Além disso, 70% do volume de água para irrigação será proveniente de poços; vamos notificar todos os grandes consumidores a fim de que o consumo seja adequado; potencializar os cortes por inadimplência; e promover a substituição dos hidrômetros por outros novos”, disse o engenheiro do SAAE.

Para o SAAE, a adutora de engate rápido destinada a Pau dos Ferros seria uma alternativa para, possivelmente, aplacar a difícil realidade de Alexandria. “Se não chover e esgotar todos os recursos de abastecimento, entre as soluções apontadas em nosso plano emergencial, estão esperar a adutora de engate rápido, locação de poços e abastecimento por meio de carros-pipa”, disse Emmanuel Pires.



POPULAÇÃO EM ALERTA

Pedro da Silva é tecnólogo e mora há mais de 50 anos em Alexandria. Ele afirma que toma cuidado para não desperdiçar água. “Moro só e procuro não desperdiçar. Deixei de lavar o carro e, quando vejo vazamento, denuncio”, disse. Sobre a possibilidade de o Açude Bananeiras secar, Pedro declarou: “Secando o açude, não tem de onde vir água. Nunca vi uma situação assim. Antes da fundação do açude, faltava água em Alexandria, mas depois da construção, nunca mais havia chegado a esse ponto”.

Geraldo Saturno, 61, mora com dois filhos e a esposa e também está receoso quanto ao futuro. “É uma dor de cabeça grande. Se faltar água do reservatório, vamos ter de comprar dos carros-pipa. Está todo mundo preocupado. Minha esposa faz almoço para vender e, diante dessa situação, o trabalho dela será dificultado. Haverá problemas até mesmo para lavar louça”, disse.

Neuma Ribeiro, professora aposentada, reside em Alexandria e falou sobre a necessidade de economizar. “Estou economizando. A água que enxágua a roupa vai para limpeza da casa e calçada. A preocupação é tanta que, se eu pudesse sair falando para as pessoas economizarem água, eu saía. Não sei de onde virá água para suprir nossas necessidades”, declarou.

José Juvenal, operador de bombas do SAAE há três anos, pôde perceber com tristeza o esgotamento do Açude Bananeiras. “É um sentimento de tristeza, até porque eu também necessito da água e o açude foi construído para a comunidade. Temos que ter fé de que, no ano que vem, o reservatório alcançará um nível superior. Para enchê-lo é fácil. É porque as chuvas foram poucas mesmo”, disse.

O Serviço Autônomo de Águas e Esgotos disponibilizou telefone para denúncias sobre desperdício de água: (84) 3381-2272.

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